O sol já brilha lá alto, o dia ainda mal começou mas o trabalho já vai avançado na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO), situada no Parque Natural da Ria Formosa.
Dentro deste enorme edifício branco, muitos tanques redondos e rectangulares são a casa de corvinas, sargos, linguados e tantos outros peixes, enquanto no chão há poças de água. As salas de testes ficam perto: uma até tem microalgas verdes, vermelhas e amarelas suspensas em grandes sacos de plástico. Por toda a parte, há tubos e cabos e as temperaturas variam tanto que depressa faz frio como calor.
Já lá fora, mais de uma dezena de pessoas, algumas equipadas com galochas e fatos de borracha verdes, iniciaram os seus trabalhos por volta das seis da manhã. Cerca de duas horas depois, das 8000 corvinas que estavam a ser transportadas para uma jaula, localizada a 2,5 milhas da costa, já poucas restam nos tanques da estação piloto.
É um trabalho de equipa. Dentro de outros tanques, quatro pessoas apanham os peixes com uma rede e depois colocam-nos em baldes. Os que ficam presos nos buracs das redes rapidamente se soltam. Os baldes vão passando para outras mãos, também já cansadas e suadas àquela hora da manhã. As corvinas saltitam, algumas chegam a cair para o chão e há salpicos de água por toda a parte. Estão a ser levadas para um camião, e aí colocadas noutros tanques.
O biólogo Pedro Pousão, coordenador da EPPO, vai relatando o que se está a fazer e, ao mesmo tempo, regista a azáfama com a sua máquina fotográfica. Desde que começaram estas experiências, esta já é a sétima vez que vão ao mar levar corvinas. No total, já transportaram para a jaula cerca de 60.000.
“As corvinas vão para a jaula quando têm cerca de 15 ou 20 gramas, um tamanho em que já não saem de lá. Estamos a falar de um animal aí com 20 centímetros”, explica Pedro Pousão. “Ficam na jaula até terem um tamanho comercial, que depois podemos escolher se será de um ou dois quilos.”
Com as corvinas, tudo começou de forma sistemática em 2010 na estação piloto, que pertence ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A estação tinha sido criada nove anos antes para investigação em aquacultura (ou piscicultura) e as primeiras corvinas ainda nasceram em 2009. A ideia subjacente a este projecto resume-se assim: as corvinas podem vir a ser o salmão dos países do Sul. “Começámos a trabalhar nas corvinas devagarinho em 2007 ou 2008”, diz Pedro Pousão.
Nesta altura, começaram com reprodutores selvagens, corvinas que foram apanhadas numa armação de atuns. Mais tarde, os investigadores foram também criando os seus próprios reprodutores e reproduzindo animais para poderem fazer vários testes a uma escala piloto, ou seja, pré-industrial.
“Fazemos estudos a nível da reprodução para ter a melhor qualidade e quantidade de ovos e ter animais o mais saudáveis possível. Estudamos todos os processos de crescimento”, conta o investigador, mencionando que para além destes ensaios, são feitos outros para ver o efeito da nutrição no crescimento dos animais.
“De forma simplista, o processo, desde a reprodução até à jaula, é de engorda. O animal reproduz-se, fazemo-lo crescer, engordamo-lo e, quando tem certo tamanho, metemo-lo na jaula”, explica Pedro Pousão, referindo que o trabalho da sua equipa não se resume só a esta tarefa. “Usamos os juvenis todos que temos aqui em vários processos diferentes, o procedimento na jaula é só um deles.”
O objectivo principal de todo este trabalho é obter números. É necessário saber quanto tempo os animais demoraram a crescer, quantos é que sobrevivem, quanto tempo demoram a atingir o tamanho comercial e de que forma tudo isto se traduz em custos. “Esses números são fundamentais para fazer modelos económicos”, conta Pedro Pousão. “A ideia é poder responder aos produtores quando cá vêm e fazem perguntas. Não pode dizer-lhes: ‘Isso não sei’”.
Largo de São Sebastião da Pedreira, 31, 4º
1050-205 Lisboa
Tel.: (+351) 21 352 88 03
Fax: (+351) 21 315 46 65
E-mail: geral@acope.pt